segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

NADA À DECLARAR

NADA À DECLARAR:
Um dia, ele chegou tão sério... como quem, aéreo, pousa sem pousar...Sequer reparou a surpresa: a mesa, à luz de velas, posta, a esperar.Mas ela, desacompanhada, ficou tão frustrada que não quis jantar...Apenas apagou as velas, guardou as panelas e dormiu calada...
Um dia, ele chegou mais tarde... deu o ar da graça já de madrugada...E ela, ainda acordada, o recebeu em casa sem fazer alarde...Mas se esperou com paciência, uma delicadeza, uma gentileza, um beijo,Cumprimentou a indiferença, sorriu à frieza e calou seu desejo!Um dia, ele chegou mais cedo... ele chegou bem antes do que de costumecismou que ela tivesse amante e preparou flagrante e demonstrou ciúme...e revirou os seus armários, leu os seus diários, queimou seus poemas...-Ela chorou, contrariada mas, não disse nada... -Não valia a pena!...Um dia, ele chegou drogado ou embriagado e pôs-se a reclamarda sua vida de casado e espancou a esposa e destruiu o lar...Jogou comida pelo chão, partiu louça por louça em mais de mil pedaços(ela abaixou, catou os cacos... sem dizer palavra, sem ter reação!...)
Um dia, ele surgiu do nada e sóbrio o bastante para lhe cobraros seus "direitos de marido" e rasgou seu vestido e quis impor, forçare fez propostas indecentes sem querer respostas pois, não deu ouvidosquando ela até tentou dizer: "É dor e não prazer a causa dos gemidos!"E logo no dia seguinte, tal era o requinte dessa crueldade,que a vizinhança, indignada, e, há muito, inconformada de ser só ouvinte,interferiu: "Quanta arrogância!!!" e fez uma denúncia às autoridadesmas, ela fez sua renúncia: usou de tolerância... usou de piedade...Um dia, ele chegou da praça, fazendo ameaças à ela, às crianças...E, outra vez, a vizinhança, à ela, propícia, quis dar segurança:chamou polícia e ambulância e, ela, interrogada por policiais,usufruiu do seu direito de ficar calada e de sofrer em paz!
Um dia, ele surgiu, sem jeito, para visitá-la em um hospital...Se disse o tal esse sujeito... "Sou mais que perfeito... Eu, certo... Ela, errada!”Bem feito pelos seus defeitos! É tão descuidada! Foi um acidente!Caiu da escada novamente!... E ela ouviu calada e, quem cala, consente!Até que, um dia, afinal, ele chegou nervoso e procurando briga...Dizendo que "EM BOCA FECHADA JAMAIS ENTRA MOSCA..." (Mas entra formiga!)E eis que, em respeito ao luto -ou por ironia- mandaram calar!...Pediram a todos um minuto... de absoluto silêncio no ar!...Um dia ele sumiu do mapa e já fazia tempo que estava sumido...O caso até foi arquivado e ele até foi dado como foragido...E agora que ela jaz calada em um cemitério, ele voltou sem medo... O caso ainda é um mistério... Ela guardou segredo... Ela não diz mais nada!...

Ivone Mendes

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